terça-feira, 15 de junho de 2010

DISCURSO



Discurso

Inspirado numa conversa com um graduando do sétimo semestre de pedagogia


Por Heitor Rocha Gomes

Atualmente ando meio intrigado com os discursos, sejam os meus discursos os de outrem. Estou aprendendo que as coisas só passam a existir quando aprendemos a nomeá-las, a significá-las, quando as devoramos fisicamente ou simbolicamente. E é por isso que ando intrigado com os discursos...se eles nomeiam as coisas, atribuem sentido, significado, produzem realidades...pergunto: o que estou comunicando ao mundo e sobre o mundo. As vezes sinto-me navegando na superficialidade das coisas vividas meio que sem rumo...as vezes me parece que minha voz, minha fala não é minha, que ambas são apenas ecos de outros que jazem no passado... parece que meus discursos diferem de mim, me contradizem, caçoam do que de fato sou(?) e sinto.
Estamos nós pedagogos dizendo acreditar que a educação vale a pena, que ela é um direito inalienável...imprescindível...falamos de sujeitos cognocentes, de sócio-interação, de ludicidade, leitura e escrita de ambiente isso e ambiente aquilo... e cada vez eu penso: não sei. Aí para sustentar o insustentável eu cogito: será que preciso ler mais? Será que há explicação para esse caos eu estou vivendo...é possível de fato encontrar um principio organizativo no caos educacional que percebo estar envolvido?
Como aprendi a acreditar que acredito em alternativas, em mudanças, como aprendi a ter esperança dano-me caçar explicações, dano-me a cavucar perguntas, embrenho-me numa mata de dúvidas...e tudo que ouço novamente como respostas, de mim e dos outros, são discursos explicativos, caricaturados, transvestidos, transviados... tentativas de dar conta de uma realidade maliciosamente forjada...
O meu/nosso discurso pedagógico, a meu ver, mantém-se suspenso e vez por outra toca o chão do dito real. Os moleques e molecas continuam perdendo os dentes, perdendo a vez, perdendo a hora, perdendo as provas e provações, perdendo a atenção, a concentração, as oportunidades, os pais, os irmãos, os colegas, os vizinhos...há entre os nossos meninos e meninas, aqueles que nunca se viram e nunca se encontram num oportuno conforto de um lar, em redor de uma mesa...há aqueles que nunca encontraram uma escola que lhe conhecesse ou lhe reconhecesse...as nossas escolas têm poucos e as vezes nenhum espelho...nossas escolas não se vêem, não se reconhecem, porém conservam nos seus discursos falas desencontradas sobre quem poderiam ser...
Este escrito sobre discursos será fiel as minhas inquietações...dessa forma a única certeza que tenho nesse momento é que essa conversa terá fim provisório...

Nenhum comentário:

Postar um comentário